
Desejo de grávida tem um quê de sagrado. Durante os nove meses de gestação, a maioria das futuras mamães não se importa com a balança quando sente as tais “vontades incontroláveis”. A preocupação com os quilos a mais só vem depois do parto, quando a mulher quer perder todo o peso que ganhou. Para alcançar o corpo que tinha antes da gravidez, no entanto, o trabalho de emagrecer vai ser maior para quem engordou mais. As gestantes com renda mais baixa também têm mais dificuldade para reduzir o peso depois que o bebê nasce.
Quem afirma é a pesquisadora Fabíola de Souza Amaral, em sua dissertação Determinantes de retenção de peso após o parto em mulheres atendidas nos serviços públicos de pré-natal do Distrito Federal, defendida em julho de 2006, no Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB). Entre agosto de 2003 e dezembro de 2004, ela entrevistou 75 mulheres atendidas nos centros de saúde da rede pública de Brasília e pesquisou os fatores responsáveis pelo aumento da dificuldade em emagrecer.
“Vimos que quem engordou mais durante a gravidez reteve mais peso depois. Isso mostra que o importante é se cuidar durante a gestação”, explica a pesquisadora. Cerca de 2,5 anos após o parto, todas as entrevistadas estavam, em média, 1,7 kg acima do peso registrado no início da gravidez. “Depois desse período, espera-se que a mãe tenha perdido todos os quilos que ganhou na gestação. Alguns teóricos sustentam que a mulher deve perder, nas seis semanas após o parto, 75% do peso adquirido”, afirma a especialista.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aumento ideal de peso durante a gestação depende da condição da mãe antes da gravidez. Se a mulher estiver abaixo dos índices normais, é aceitável que ela engorde de 12kg a 18kg. Para as mães com sobrepeso, são tolerados entre 7kg e 11,5kg a mais durante os nove meses. Na sua dissertação, Fabíola percebeu que as mulheres que estavam abaixo do peso no começo da gestação engordaram mais e retiveram mais quilos após o parto.
“Isso acontece porque as mais magras não se preocupam tanto em não engordar. E também por haver um controle maior, nos casos de grávidas com sobrepeso que passam por consultas individuais na rede pública de saúde”, detalha a pesquisadora. Em um dos casos analisados por ela, a mãe mais magra conseguiu emagrecer apenas 2kg dos 17kg que ganhou na gravidez. Outra entrevistada, que iniciou a gravidez com sobrepeso, não só conseguiu perder os 10kg que ganhou na gestação, como deu “adeus” a outros 9kg.
BAIXA RENDA – Outro fator diretamente relacionado à retenção de peso, segundo Fabíola, é a condição financeira da família. Em sua dissertação, ela descobriu que as mulheres com menor renda mensal tiveram mais dificuldade para voltar à silhueta inicial. “Por terem menos acesso à informação, a maioria delas não tem orientação ou conhecimento sobre métodos para emagrecer”, afirma.
Esses resultados se enquadram no novo padrão de distribuição da obesidade apontados pela Pesquisa de Orçamento Familiar realizada em 2002-2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em todo o Brasil. segundo esse estudo, na população brasileira residente em áreas urbanas, a obesidade vêm se concentrando nos estratos menos favorecidos da sociedade”, afirma. A renda média per capta entre as mulheres que participaram da entrevista é de um salário mínimo.
A pesquisadora avaliou ainda fatores que interferem na retenção de peso de uma forma mais branda. Pelo mesmo motivo das mães de baixa renda, as que tinham um nível de escolaridade menor, perderam menos quilos. Já as mulheres que amamentaram durante mais tempo, emagreceram com mais facilidade. “Gasta-se muita energia para produzir o leite materno, o que ajuda na perda de peso”, explica Fabíola.
A pesquisadora também investigou se o fato de as mães terem ou não um companheiro influenciava na silhueta final. “As solteiras apresentaram uma retenção menor, resultado provavelmente associado à vaidade”, ressalta a nutricionista.
Fabíola acrescenta que as mulheres que voltaram a trabalhar depois da gestação tiveram mais dificuldades para perder peso. “Uma das explicações encontradas é que a maioria das entrevistadas presta algum tipo de serviço doméstico. Nestes casos, a alimentação no trabalho é mais farta que a de casa”, explica a pesquisadora.
IMAGEM – Para uma análise complementar, Fabíola ainda usou uma escala de desenho de silhuetas. O objetivo era descobrir se as mulheres entrevistadas estavam satisfeitas com sua imagem corporal. Ao avaliar os nove tipos diferentes de silhueta, elas apontavam o modelo que mais representava o seu tipo físico antes e depois da gestação. As mães também identificaram qual a silhueta que pretendiam ter. “A maioria delas estava insatisfeita com o corpo, principalmente as que retiveram mais peso”, conta.
TRAJETÓRIA – O trabalho da pesquisadora começou ainda em 2000, quando estava na graduação e participou da pesquisa da nutricionista Kelva de Aquino. Para sua dissertação Determinantes do ganho de peso ponderal excessivo em gestantes atendidas nos serviços públicos de pré-natal do Distrito Federal, defendida na UnB em 2004, Kelva entrevistou, entre 2000 e 2003, 155 gestantes atendidas na rede pública do DF. Destas, 75 foram novamente avaliadas por Fabíola meses depois. “Foi importante ter os dados coletados pela Kelva durante a gravidez para uma análise mais completa”, avalia Fabíola.
Reportagem publicada no site: http://www.secom.unb.br/bcopauta/nutricao35.htm
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